18 outubro, 2008

Pessoas que se dizem pessoas

Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?
Guimarães Rosa



foto do arquivo de Marta no Orkut




por Marta Resing



Ando meio chocada com o que tenho visto na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Trabalho lá há muitos anos e, confesso, ainda não tinha assistido a tamanho disparate na suposta “proteção aos animais”. Até as galinhas são motivos de e-mails desaforados aos vereadores que votaram pela liberdade dos cultos afros-descendentes.



Pergunto-me: será que esse pessoal também vai enviar essa chuva de mensagens em defesa dos animais para as inúmeras churrascarias que temos na capital dos gaúchos???? Será que enviará paras as igrejas, católicas, evangélicas e etc e tal, que promovem galetos beneficentes? Sim, porque vacas, bois, ovelhas, terneiros, novilhos precoces, até mesmo frangos e peixes são animais, ou não?



Surpreendo-me mais ainda quando vejo a titulação dessas pessoas que, pelos doutores professores escritores, deveriam, no mínimo, ser pensantes. Mas parece que me equivoco. Até cheguei a pensar que a cultura deles era de jornal, porque é difícil acreditar que, algum dia, eles tenham aberto um livro para ler. Mas agora creio que nem de jornal é, pois apesar da mídia mais que parcial que temos no RS, eles não conseguem nem mesmo ver (ler) que a cidade está de cabeça para baixo e que o estado massacra GENTE.



É gente rolando nas ruas, nas estradas, dormindo em baixo das marquises em barracas e barracos. Mas isso não importa. Esses mendigos, sem tetos e sem terras vivem na boa, ganham dinheiro fácil e vivem a festejar. Esses macumbeiros, assassinos de animais indefesos e esses carroceiros, que maltratam os cavalos para conseguirem uns pilas pra comida dos filhos, esses, bem, esses não importam.



O que importa é o carneiro sacrificado num culto religioso, é o cavalo que puxa uma carroça com lixo. Claro que o uso (sacrifício também, não é?) de carneiro pra um bom churrasco, de um frango assado, de carroça carregando muita gente, como assistimos nos desfiles tradiconais, ou de um cavalo sendo esporeado sem piedade é cultura gaúcha. Aí pode.



Parece que Guimarães Rosa já pressentia que esse dia iria chegar. O dia em que Pessoas que se dizem Pessoas ignoram as Pessoas e amam (?) os animais.

Um comentário:

  1. Querido amigo. Fico muito feliz de ter a honra de estar neste espaço tão valioso que é o teu blog. Obrigada. Marta Resing

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