20 março, 2010

Meu resumo de Alice tem mais de 18 mil leitores


A trama de Lewis Carrol cria universo ficcional caótico que vai sendo conhecido em altíssima velocidade narrativa.
Nada real, coisa alguma de realidades.
Não deixa o leitor estabelecer relações cognitivas e emocionais no encontro com o texto. O impensado é o desafio a vencer.
O País das Maravilhas desliga linguagem de contexto usual e convida ao estranhamento do mundo. Obra de arte, não trata só do nonsense infantil, pois que carrega ordenação lógica singular.
carroll finaliza revelando em que se assenta o seu país: Ah, eu tive um sonho tão esquisito! – diz Alice. O autor faz das aventuras encontros fenomenológicos. Cada episódio guarda níveis de apreensão diversos.
A narrativa convoca a capacidade de reordenar as significações. Os encontros de Alice conduzem a pensar a própria linguagem de modo que se torne linguagem primeira redefinindo os próprios limites do mundo. Infância, jogo e linguagem são os marcos essenciais do mundo poético de Carroll. Nenhum suficiente em si para que se compreenda o mundo. Alice não é puro jogo com os significantes.
No quinto capítulo, Conselhos de uma Lagarta, filosofia profunda aparece como ingênuo diálogo infantil. “Quem é você?”. Está posta a própria existência em questão. Tantas transformações sofridas e encontros no mínimo inusitados na toca do coelho, longe da família, da escola, das atividades e círculos sociais próximos, a resposta poderá ser errada, porque requer de Alice retomar a própria essência. Tarefa colossal ante as circunstâncias do País das Maravilhas.
O desassossego se instala; Carrol questiona a existência antes da autodefinição. Dúvida antes do Verbo A lagarta será borboleta. Espelho da metamorfose.
Escapa a Alice a razão de não poder identificar-se.
- Bom, quem sabe a sua maneira de sentir talvez seja diferente ... ensaia Alice ainda na tentativa de explicar-se. - Você! - exclamou desdenhosamente a Lagarta.
– E quem é você?
- Acho que a senhora deveria me dizer primeiro quem é .
- Por quê?
A nova pergunta desconcerta, confronta sem desvelar-se. Carrol desarticula o mundo instituído. Retoma respostas socialmente aceitas, esvaziadas de significação e lhes dá outro lugar.
Só o olhar primeiro, um novo olhar, se permite maravilhar.
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Apoiado no estudo A desconstrução de ilusões, de Milena Shimizu.

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