19 junho, 2009

Grande Sertão : Veredas

"O diabo na rua, no meio do redemoinho... viver é muito perigoso, Diadorim disse"

Estando só, me volto para o mar e recordo de Rosa a alertar que a imensidão toda firmeza dissolve porque não há onde acostumar o olhar. A riqueza do telúrico em casamento com o romântico, na revolução do verbo, da sintaxe mesma, coloca a gramática no lugar das coisas por serem refeitas.
Em Grande Sertão : Veredas, João Guimarães Rosa assina o melhor que a literatura brasileira
inscreve na história mundial das letras.
A humanidade de Diadorim, descrita pelo amor despido de pejo por Riobaldo, sendo ambos ainda naquele instante machos aparentes, essa humanidade vai rondar e encafifar o leitor por muitos capítulos enfieirados, fará o leitor rolar o miolo, rever-se pelo inverso, avesso de por dentro até.
Rosa é exigente: procura o leitor inteligente.
Grande Sertão : Veredas é, para redundar... enorme. Excelente para mais e muito.
E tão grande é o prazer de o ler, que cada nova investida revela uma faceta outra, antes não percebida na narrativa. O sertão, um enorme outro mar vai construindo as bravuras e desmanchando as bravatas. Sobram verdades comprovadas pelo desafio da existência, após a queda de sem número de fachadas e a descoberta do vazio como recheio.
O editor adverte: "em todos os seus escritos, João Guimarães Rosa fez questão de usar grafia própria, divergente em muitos pontos da ortografia oficial. Respeitando a vontade do autor, continuamos a publicar sua obra conforme o texto originalmente fixado".
Foi muito além da advertência, o Rosa. Fez das letras um galope, uma jornada inesquecível de sentenças inaugurais, uma original revoada de prágrafos de tirar o fôlego, uma manada primeva de capítulos em estouro pelo ribombo dos trovões que anunciavam a tempestade criativa da obra prima, ainda que à margem o rio parecesse manso, que só é contrariada a impressão se a travessia vai intentada, que é o teu desafio.
E veja-se que a própria história do vernáculo dá razões ao Rosa, que se indo está para a terceira reforma da ortografia oficial. Pode-se pensar que, por alguma via, talvez a burocracia, uma vez, encontre a imaginação e a criatividade espetacular fixada em Grande Sertão : Veredas.
Quem lê, sabe que as coisas todas do mundo, as mais sólidas até, podem ser transformadas.
O que Riobaldo vê acontecer com Diadorim quando...
Bem, penso que há mais muita qualidade na leitura que do próprio autor faças com gosto.

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