Levantava e ao mirar-se no espelho da cômoda, após acender a lâmpada da pequena luminária de apoio sobre o criado mudo, nada enxergava.
Não se via.
Seguia até o banheiro, o próximo espelho, também ali não aparecia imagem sua.
Só na casa, corria de um cômodo ao outro, pés descalços, inverno ou verão, buscando a própria imagem em algum espelho ou vidraça.
Desesperava.
Tenso, banhado em suor gélido, arrastava-se de volta ao dormitório. Um rastro fino de sangue no assoalho, as linhas quase paralelas perfeitas vertidas dos pulsos nunca chegavam à roupa de cama, lençóis, colchas ou cobertores, quais fossem.
Ali, Elêusis sempre se reencontrava esticado na cama, em profundo e plácido sono.
[ Adroaldo Bauer Corrêa, especial para o Vale das Sombras ]
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