13 novembro, 2012

Entrevista com Álvaro Santi, músico, poeta, servidor público







Entrevistei para o jornal Fala Brasil! o escritor e músico Alvaro Santi, Técnico em Cultura concursado da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre. Ele já gerenciou o Fumproarte, inovador fundo público de apoio à produção cultural gaúcha criado na década de 90. Morador da nossa cidade, Alvaro Santi fala do gosto e do tempo para fazer arte, diz um pouco de como faz pra criar o que publica e executa. As pistas e informações que dá animam por saber que os trabalhadores não querem só comida, também fazem artes diversas com qualidade. Lendo, poderás ter acordo com o que dizemos. Fique à vontade.


Adroaldo Bauer - Tens um novo livro de poemas publicado. Como ele é?
Alvaro Santi – “Luta+vã” é um livro um pouco diferente dos quatro anteriores, por tratar-se de uma antologia. Além da produção mais recente e inédita, ele contém uma seleção de poemas de meus três primeiros livros, publicados nos anos 90, seleção a cargo do poeta e crítico Ronald Augusto. A intenção foi recolocar em circulação o conteúdo daqueles livros, esgotados ou difíceis de encontrar.

Adroaldo Bauer - És funcionário municipal, músico e escritor. Qual tua formação acadêmica? Como concilias tuas atividades e do que mais gostas em tudo o que fazes?
Alvaro Santi - Graduei-me em Música e posteriormente concluí um mestrado em Letras, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ainda durante o mestrado, tive a oportunidade de ingressar na Prefeitura de Porto Alegre através de concurso público, em 1996, como Técnico em Cultura, o que me permite ganhar a vida em contato direto com o meio cultural da cidade, ainda que o tempo que me sobra para atividades criativas propriamente ditas seja evidentemente restrito. Vivo em busca do equilíbrio impossível e necessário entre tudo isso, sem esquecer a família e as amizades.

Adroaldo Bauer - Coordenaste um fundo público de apoio à Cultura, o Fumproarte, como era esse trabalho, a relação que imprimias pessoalmente à função. Há mudanças na condução do fundo hoje? Como as vês?
Alvaro Santi - Participei do Fumproarte inicialmente como membro da Comissão de Avaliação e Seleção, responsável pela escolha dos projetos a ser financiados, com representantes do poder público e das entidades representativas da cultura local. Foram quatro anos nessa função (paralela ao meu trabalho junto à Coordenação de Música) e posteriormente outros seis como gerente do fundo, cuidando da organização dos concursos e do acompanhamento dos projetos financiados. Foi um grande aprendizado
sobre a arte que se produz na cidade, as pessoas que a produzem e as condições em que o fazem. No geral, sobra talento e faltam meios. Eu sinto orgulho de simplesmente viver numa cidade que criou esse
instrumento pioneiro e republicano de apoio à produção local, e mais ainda me sentia na função de interlocutor do Estado junto aos produtores, numa relação transparente, que não é de "favor" ou
"balcão", mas pressupõe direitos e deveres de ambas as partes. Pressupõe também uma compreensão das distintas lógicas da administração pública e da criação artística. Em relação à condução do Fumproarte após minha saída, eu não tenho acompanhado de perto, até porque o projeto do Observatório da Cultura
absorve toda minha atenção. Penso que o Alexandre Silva, que me sucedeu, é plenamente capacitado para a função, e também que seria indelicado da minha parte fazer juízo de valor sobre o seu trabalho.

Adroaldo Bauer - Escreves ficção. Tens outros livros além desse de poemas que lançaste no último 3 de outubro, o “Luta + vã”. Como chegas a publicar pela primeira vez? Como está acontecendo contigo o processo editorial agora? Tens outras obras ainda não publicadas?
Alvaro Santi - Minha estreia em livro deu-se através de um concurso, o Prêmio UFRGS de Literatura, que resulto na publicação de "Viagens de uma caneta por meus estados de espírito" pela Editora da Universidade, em 1992. Tive outros livros publicados por órgãos públicos (o Instituto Estadual do Livro - IEL e a própria Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, ainda antes de eu ser funcionário). Depois lancei uma edição independente e agora estou experimentando pela primeira vez uma editora comercial, a Libretos. Tem sido uma relação muito tranquila. Tenho um livro de contos inédito, além de dois projetos de maior fôlego, ainda amadurecendo na gaveta enquanto aguardam o seu devido tempo na agenda.
Adroaldo Bauer - Tuas experiências com o processo editorial são distintas? Que mais te marca, quais as mais gratas? Há situações embaraçosas?
Alvaro Santi - Cada livro tem sua pequena história. Tem o primeiro, que a gente nunca esquece. O penúltimo, "A aposta dos deuses", teve a peculiaridade de ser independente, tive o controle total do processo. Neste mais recente e em outros tive a colaboração de amigos.

Adroaldo Bauer - Como ocorre a distribuição do que publicas? Consideras razoável o
que ganhas de retorno dela?
Alvaro Santi - Em relação a "Luta+vã", a distribuição está a cargo da Editora Libretos. Meu penúltimo livro, independente, deu algum retorno no lançamento, e ainda está à venda no meu próprio site. Deu para cobrir os custos de produção, na melhor das hipóteses. Fiz um esforço por colocá-lo em bibliotecas universitárias pelo país a fora e até no exterior. A esta altura, já não tenho ilusões a respeito do "sucesso”
em vendas. O importante é seguir escrevendo e publicando, fazer chegar a obra ao público de alguma forma, mesmo que o livro como produto cultural deixe de existir... E imaginar que a maioria de meus
leitores, quem sabe, ainda está por nascer.
Adroaldo Bauer - Como fazes para criar? Organizas roteiros, fazes um plano, segues registros casuais escritos, partes da observação do que te cerca, do mundo que percebes?
Alvaro Santi - O poema nasce para mim de maneira súbita, provocado por uma cena, uma imagem, algo que li, uma ideia enfim, a qual deve ser urgentemente anotada para não se perder no turbilhão do cotidiano. Algumas já nascem em forma de verso, com certo ritmo, aspecto ao qual eu tenho
dado uma atenção especial na produção recente. Essas ideias vão-se acumulando num caderno, algumas terão a sorte de ser desenvolvidas em outro momento, eventualmente consideradas prontas e só então digitadas. Entre o início e o final desse processo podem transcorrer dias, meses ou anos.
Adroaldo Bauer - Desde quando escreves ficção? Como avalias o interesse de leitores no teu trabalho. De que modo chegam a ti esses retornos?
Alvaro Santi - O livro no Brasil é relativamente caro e o público leitor, reduzido, é o que dizem as pesquisas. Oxalá a educação possa alterar esse quadro num futuro próximo e a poesia angarie mais leitores. Até então, o retorno que recebo é quase sempre pessoalmente. Com a criação do
site esse ano acredito ter criado um canal mais efetivo de interação com o leitor.
Adroaldo Bauer - Fazes música para teus poemas ou letras para tua música? Ambas as coisas?
Alvaro Santi - Salvo alguns acidentes (como um jingle que fiz recentemente para uma amiga candidata), eu não tenho me dedicado a compor, por absoluta falta de tempo. Compor música para mim, ao contrário de escrever um poema, é coisa muito absorvente, impossível de encaixar numa brecha do cotidiano. Tenho investido em algumas parcerias, fornecendo poemas para outros colocarem música, que renderam até agora duas belas canções, gravadas por Leonardo Ribeiro e pelo duo paulistano Ana Luiza
e Luís Felipe Gama.

Adroaldo Bauer - A que tipo de música te dedicas. Integras algum grupo? Atuas profissionalmente com música?
Alvaro Santi - Há muito tempo desisti de ser músico no sentido profissional do termo. Porém, há alguns anos eu retomei com mais afinco a prática, a fim de produzir o CD "Trem da Utopia", que resgatou canções do "Caixaprego", minha banda dos tempos de estudante. No disco, eu toco violão de seis e 12 cordas, baixo, flauta e também canto. Para os shows de lançamento, em 2011, foi necessário remontar o "Caixaprego", que atualmente conta com Erika Alibio (voz), André Mâncio (guitarra) e Tadeu Kirch (baixo), além de convidados eventuais.
Adroaldo Bauer - Flertas com a dramaturgia em teu quinto livro, a “Aposta dos Deuses ou Nietzsche, quem diria, acabou em comédia”. Já recebeste alguma proposta para uma montagem teatral do argumento? Pensas em montar algo no gênero a partir dele tu mesmo?
Alvaro Santi - Tenho muita vontade de ver o texto em cena, mas até o momento não há propostas. Já pensei em redigir eu mesmo um projeto para obter recursos, mas não me sobrou tempo para isso até agora.
Adroaldo Bauer - Moras em Porto Alegre. Nascestes onde e quando?
Alvaro Santi - Sou natural de Lajeado, mas vivo em Porto Alegre desde que ingressei na universidade, no comecinho dos anos 80, com exceção de uma temporada de três anos em Esmeralda, em que estive como funcionário do Banco do Brasil.
Adroaldo Bauer - Agradecemos tua disposição de nos atender. Queres dizer mais algo
aos leitores do Fala Brasil?
Alvaro Santi - O livro "Luta+vã" está à venda na Feira do Livro e também pelo site www.libretos.com.br. Mais informação sobre meu trabalho no site www.alvarosanti.com.br. Grato pelo espaço e longa vida ao Fala Brasil, veículo de resistência cultural de Porto Alegre.

http://asanti.tnb.art.br/

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