27 dezembro, 2012

DO CAOS A FORÇA ME VEM



O chão firme era, ora se move,
mais que a terra veloz se move.
Sai-me dos pés e alto lança-me
em difuso torvelinho, e comove

a ponto de deixar-me sem mim
de um jeito desavisado sem fim.
Era um sonho acalentado, sim,
um sonho dourado como anelo

há muito buscado. Cais, enfim,
seguro, esfumado na undécima
hora, arrebentando aos ventos
bravios o velame já afrouxado.

O horror da tempestade súbita
parte o leme, e o casco rompe
desarranjando panos e planos.

O torvelinho se adensa, abarca
mesmo a ciência dum presente
sem constância no futuro. Dano

já irreversível? Ao mar jogado,
revoltada a natureza das coisas
alucina, empresta-me a cólera,

inexistente na esperança, agora
se aplasta grotesca e vadia, vã,
ocupa meu coração de desamor

que vazio estava e preenchias,
meigo o carinho teu se parecia,
os doces versos da tua poesia,

diziam-me certezas que sentia
pelo que lancei-me sem cartas
ao mar bravio. Atormentada já

naufragando a alma na insânia
dou à praia dilacerada, insone
e me percebo marejada, olhos

e toda a roupa molhada. Sonho
ruim, aterrorizante, o pesadelo,
vivido acordado, desata em mim

mais choro, agora convulso sem
ti, sem ninguém além de perdido
de mim em terra estranha, hostil.

Junto todos os cacos de mim, o
que me resta. Ergo um forte ao
meu redor. Ponho-me ereto em

pé e vou à frente buscar gente,
que me ame e em quem confie
porque tanta dor assim jamais

será em mim maior que o amor
que minha fortaleza interior, que
a beleza, a ternura, a luz, a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário no post. Seu retorno ajuda a melhorar a qualidade do meu trabalho.
Se você não é inscrito no blogger, clique em anônimo e deixe um nome ou endereço para contato.

Twitter Updates

    follow me on Twitter