08 março, 2013

SOBRE COMO (QUASE) SE TORNARA VULNERÁVEL


Conto de Helena Boll

Enjoou-se da dinamicidade das novidades que ultimamente a envolviam.
Recorreu à guerreira agenda telefônica, pouco convicta de que dali brotaria a solução de seu presente dilema. E brotou.
O nome, já familiar, saltou frente a sua vista. Seria a poção mágica responsável por tirá-la da desregrada vida sexual, ao menos naquelas semanas.
Restabelecido o contato, de forma não árdua, saíram uma vez.
Arrebatadores arrepios trouxeram à tona agradáveis lembranças doutros tempos.
Não tardou o reencontro.
Sentira algo. Estranho, no mínimo. Não se apegando a detalhes, deixara passar como despercebido.
A relação fluía, constante, consistente:
Atento. Aberto. Disposto. Ele se fez carinhosamente presente.
Ela potencializou sua importância. Entregou-se, descaracterizando-se.
Vieram as impossibilidades das rotinas divergentes; tornaram-se frequentes, tornaram-se desculpas.
Ele se distanciou.
Ela correu para se aproximar.
Ele foi claro.
Ela escutou, processou, compreendeu, aprovou; mas sentiu.
Chorou. Chorou muito.
Traduziu-se, para si, apaixonada.
Persistiu. Ao alto, lançou certas convicções. Mergulhou na profundidade de suas ilusões.
Ela o procurou, precisava dizer-lhe de forma clara a emoção, transparecer.
Despiu alma e coração; estava ali, ela, por inteiro, exposta. Apostando, de modo raro, no sentimento.
Ele a escutou, admirou sinceramente, mas não sentiu – não sentiu o que ela gostaria que houvesse sentido.
Um choque sucedido de longa respirada.
Satisfeita, mas não contemplada, girou sobre os calcanhares, despedindo-se sem saber por quanto tempo.
Se foi, definitivamente derrotada na batalha emocional.
Sentiu-se abalada, mas não enfraquecida.
Desistiu de amar.
Caminhando sobre firmes pés, recuperou a agenda – bem guardada na pequena bolsa.
Esfregou os olhos e, esboçando um sorriso à esquerda do rosto, alegrou-se frente à epifania que, agora, lhe convencia: ser vulnerável não era para si.

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