As famílias vizinhas se reuniam desde o pôr do sol (naqueles tempos o circunflexo lhe ia bem). As crianças, já de banho tomado, corriam pela calçada de gres, num pega-pega, algumas rolavam na grama em esquivas baldadas.
Os jovens sem quartel se insinuavam pras mocinhas, que prefiriam trocar olhares com os cadetes e recos...
Casais de noivos passeavam de mãos dadas, uns até de braços envoltos nas cinturas.
O ar rescendia a perfume de flores.
Anoitecia e luzes de velas recortavam figuras dos presépios nas paredes das salas.
Balas e pirulitos coloridos enfeitavam mesas em pratinhos de papelão.
Luzinhas arrancavam chispas de pingentes de arvorezinhas, elas todas com bolinhas multicores, figuras de anjinhos de cera e gesso, encimadas por estrelas douradas ou vermelhas. Cadentes.
Pais e mães conversavam nos cantos das salas, nas cozinhas assuntos do tempo, da fortuna, dos reumatismos e achaques da idade.
Numa esquina, longe para meus quatro anos de idade, avistei um grupo em burburinho tentando escapar da vara de marmelo do que me disseram ser o afamado Papai Noel. Estava tão amedrontado com a imponente figura vestida de vermelho que nem percebi onde deixara o trenó e as renas. Minha maior dúvida àquela hora era se me havia bem comportado o suficiente pra merecer um presentinho ou varadas nas pernas.
Papai dizia que sim, tentando me acalmar. Mamãe me lançava um olhar bondoso, mas um tanto enigmático.
Depois de tudo, os pequenos éramos carregados pra missa na igreja, de onde, pelo menos eu, voltava com o pensamento fixo no cachorro-quente e na guaraná.
Uns anos depois, nossa casa era numa rua "de chão batido", sem calçada, a vizinhança arisca, só nos restara a missa da manhã do dia seguinte, por 21 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário no post. Seu retorno ajuda a melhorar a qualidade do meu trabalho.
Se você não é inscrito no blogger, clique em anônimo e deixe um nome ou endereço para contato.