20 maio, 2008

As juventudes se organizam para o futuro breve





Conta a lenda que, nos idos de 1968, as lideranças estudantis em passeata de milhares contra a ditadura arrancaram por seus movimentos públicos e legitimidade uma audiência com o general de plantão em Brasília.

O encontro das lideranças com o ditador não aconteceu porque um dos principais dirigentes da mobilização recusou o protocolo e não pôs gravata de jeito algum.

Outro episódio do período que ajudou a azedar o caldo do endurecimento ainda maior do regime sobre o povo foi o convite de um deputado a que as moças brasileiras se recusassem a dançar com os cadetes nos bailes em comemoração do dia da independência.

Curiosamente, os dois episódios dizem respeito a formalidades e às juventudes, sempre avessas a elas.

Não estou para examinar comportamentos, irreverências ou conseqüências. Apenas quero fazer o registro, que encontrei poucos fora das relações formais, da realização em nosso país em 27, 28, 29, 30 abril/2008, em Brasília da 1ª Conferência Nacional de Juventude. Dela você pode obter todos os detalhes no sítio próprio http://www.juventude.gov.br/

Destaco que a Conferência definiu as 22 prioridades da juventude brasileira em quatro dias de intensos debates, misturando momentos formais com descontração pura.

A primeira Conferência Nacional de Juventude trabalhou para consolidar a política nacional de juventude e incluir, de forma permanente, o tema na agenda das políticas públicas. Participaram do encontro mais de 2 mil delegados eleitos nas etapas preparatórias, que envolveram cerca de 400 mil pessoas em todo o Brasil.

Para os jovens organizadores, a Conferência foi um exemplo de mobilização e mostrou o interesse da juventude brasileira em participar da vida política do país.

No âmbito específico da cultura, recolhi algumas resoluções:

Criação, em todos os municípios, de espaços culturais públicos, descentralizados, com gestão compartilhada e financiamento direto do estado, que atendam às especificidades dos jovens e que tenham programação permanente e de qualidade...

Estabelecimento de políticas públicas culturais permanentes direcionadas à juventude, tendo ética, estética e economia como pilares, em gestão compartilhada com a sociedade civil, a exemplo dos pontos de cultura, que possibilitem o acesso a recursos de maneira desburocratizada, levando em consideração a diversidade cultural de cada região e o diálogo intergeracional.

Criação de um mecanismo específico de apoio e incentivo financeiro aos jovens (bolsas) para formação e capacitação como artistas, animadores e agentes culturais multiplicadores.

Estabelecimento de cotas de exibição e programação de 50% para a produção cultural brasileira, sendo 15% produção independente e 20% produção regional em todos os meios de comunicação (tevê aberta e paga, rádios e cinemas).

Valorização dos artistas locais garantindo a preferência nas apresentações e prioridade no pagamento. entender os cineclubes como espaços privilegiados de democratização do áudio visual.


Fez parte da programação, pode até ser um outro capítulo de interesse e abordagem, mas é também peripécia de jovens, o
lançamento da publicação Jovens Multiplicadoras de Cidadania Construindo Outra História – de Elisiane Pasini e João Paulo Pontes – Edição Themis, Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero e da Secretaria Especial de direitos Humanos da Presidência da República.


A obra da dupla porto-alegrense tem distribuição gratuita e aborda a experiência relatada de jovens promotoras legais populares, a afirmação de trajetórias individuais e coletivas, a inserção do gênero e das questões da mulher em todas as esferas dos direitos, a pessoa íntegra num mundo multiparcelado.

O Conselho Nacional de Juventude recolheu 1.800 assinaturas de delegados da Conferência pela aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC 138) que insere o termo “Juventude” no texto da Constituição Federal, no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais.

O gesto quer facilitar, por exemplo, a aprovação de projetos como o Plano Nacional da Juventude (PL 4530/04), que estabelece um conjunto de metas relacionadas aos direitos dos jovens que o país deve cumprir.

Eu não sou dado às formalidades, embora as considere necessárias para as relações entre grupos e mesmo indivíduos em sociedade, espantou-me, lendo as resoluções e acompanhando alguns sítios e blogues da rapeize, que tal dimensão institucional de avanço das relações tenha passado ao largo das ações e preocupações de grupos juvenis, populares, acadêmicos ou não, e que tamanha efervescência tenha ficado à margem dos debates nessas seções amplamente freqüentadas, mesmo as nossas aqui em Overmundo.
É certo que não foi uma reivi, um baile fanqui, uma parada de pancadão ou metal pesado, nem mesmo um pagode ou uma sertaneja...
Tratava-se, formalmente, das relações sociais que nos exigem a todos, de resoluções de uma conferência, a primeira de juventude na República, de cultura e do futuro.
Fica o registro.

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