16 outubro, 2006

Canto para Mestre Duca


Mestre Duca, todo o dia,
paciente vai fazendo filas,
uma depois da outra,
seguindo sempre suas normas
pra tudo ficar nos trilhos.
E o que antes era uma pilha
aos poucos toma sua forma.
Quase sempre solitário,
“só das veiz que vem um filho”,
com delicadeza, empenho
e uma concentração sagrada
como se fora um santuário,
Mestre Duca pensa, franze o cenho,
retoca um pouco aqui e ali,
às vezes uma nadica de nada,
mas só depois deste cuidado
dá uma etapa por findada.
Ah, Mestre Duca é ladrilheiro,
um trabalhador brasileiro
que com cimento e ladrilho
vai deixando tudo alinhado.
Homem simples, educado,
de cor negra, cabelos brancos,
que tem mulher e tem filhos
e nada sabe de investimentos,
os tais negócios com bancos,
pensamento em maracutaias.
Nisso, nunca botou tenência:
trabalho, dignidade e decência
sempre foram a sua praia.
Por isso, ele pensa e não entende
como esta gente sai dos trilhos
e cada um pra um lado pende;
se pensar muito, nem dorme.
“Ah, fosse aqui com meus ladrilhos,
eu punha tudo nos conformes.”

Mestre Duca nem dá conta
e até mesmo se espanta
de saber que seu trabalho
bota beleza no mundo.
E se alguém lhe chama à parte
pra dizer que ele faz obra de arte,
Mestre Duca dá um sorriso maroto,
coça a cabeça e o queixo,
a pensar, como diz o outro,
com seus botões de Mestre Duca:
“Que povo mais fora dos eixos,
eita gente mais maluca!


Flávio BARRETO Leite - Niterói, 11 e 12 / Out. / 2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário no post. Seu retorno ajuda a melhorar a qualidade do meu trabalho.
Se você não é inscrito no blogger, clique em anônimo e deixe um nome ou endereço para contato.

Twitter Updates

    follow me on Twitter