22 novembro, 2007

Um resenha de Ivanise Mantovani para Verso e Inverso da Paixão, de Zé Augustho Marques


Explosão nos versos de sensibilidade sexual. O poeta desalinha o leitor na linha exata.

Surpreende e por vezes escandaliza com a aridez da palavra escrita e comprometida. Mas como falar manso da paixão? Se a paixão é frêmito incontrolável. Ele, o homem, desnuda-se às vísceras e bebe o coquetel extraído do amor e desatino. Tira do prumo a fragilidade do ser com esse sentimento que corre na veia, fluxo do coração, fibrila o miocárdio pondo em risco a vida.
O homem peca.
Dilacera-se, ama vorazmente e sofre na hora justa de estar só.
Experimenta as benesses do livre arbítrio e se faz algoz de si mesmo.
Mastiga o fel elaborado pós-paixão.
No beijo casto-profano o poeta extrapola e adentra pelo caminho da dor.
Antes, porém, desliza com mãos sedentas o veludo da pele nua, puro mel e se farta do veneno-doce e pede mais.
No livro “Verso e Inverso da Paixão”, dá para se ouvir o grito desmesurado da palavra.
Grito, quase desespero.
Pode-se, também, ouvir o balbuciar amorável dos amantes.
No verso inverso da paixão o poeta cinzela no fruto carnal a tatuagem de todos os prazeres, as malícias. E brotará o verso de sabor profano-sagrado.
O poeta perdoado, agora, é um santo debuxado e desenhado pelo artista dos matizes e das cores e seus pincéis.
Como posso analisá-lo?
Se ele ama de forma incondicional e transita por todas as paixões?
Análise, palavra gélida, é como deslizar em cacos de vidro, pode ferir ou, talvez, enaltecer de um jeito sem jeito.
O incauto que se atrever a fazer essa análise pode chegar às raias da vaidade no querer imitar Deus.
Sem saber o que faz se imiscuir, invadir caminhos intransponíveis e se mostrar monstro onde, nas entrelinhas, existem anjos descuidados.
Podemos encontrar nele um Guinsberg engajado no sofrimento global; uma passional Alfonsina Storni; modernista como Jorge de Lima; sonhador igual Manuel Bandeira; quem sabe um Augusto Dos Anjos; ou de todos os poetas tenha um pouco.
Minha análise o vê um poeta multifário. Ele mesmo diz: Posso ser um poeta capinando o pó, andorinha livre no céu, ou fazer da paixão uma revolução ardente. Ele se define assim: Quantas paixões traduzidas; quantas paixões concluídas; quantas oprimidas; formalistas, socialistas.
Pude observar na leitura do livro de Zé Augustho Marques “Verso e Inverso Da Paixão” outras paixões tantas inoculadas nas veias do escritor:
Pelo botequim/cachaça; pelo mestre-sala/ carnaval; pela ácida/inferno; polícia/votos chulos pra puta que te pariu; pela arte/Guernica; universo/desespero; proscrita/pecados capitais; saudade/do resto que fica; pelos artistas/cidade; pela arte Danubiana/Danúbio Gonçalves; Pelos pecados/são restos; relâmpagos/orgasmos; pura/benção de luar; vazia/morte no coração; conventos/sofridão ideal; travada que nem padre exorcista; cínica/que rosna a beleza bruta; pelo próximo/das gentes; paixão imaculada/pela Virgem Maria; pelo impudor/êxtase pagão; pela morte/suplício cínico, abismo final; casta/nervos de geléia;

Paixão é dardo sem ponta.
Paixão requer solidão e, vez por outra, esperança.
Paixão sem amor é pétala invertida pisoteada pelo chão.
Paixão surge feito louca em tarde de domingo, dormindo ao lado, sensação pagã de jejuar.
Paixão lambe as madrugadas.
Mas, para o poeta Zé Augustho, a paixão maior de todas é a que virou eterno amor pela amante-amada e com ela se sente rei.

Para mim o poeta “é Z ohtsuguA", é todo ele assim feito de descuidada harmonia inversa, despojada de artifícios, é povo, é gente, é vida.
Ele é o inverso da verdade velada.
Ele não usa a máscara simulada da inverdade.
Ele até pode pensar, mas não usa.
Cristalino, assim o defino; verdadeiro, assim o decreto.
Embora escreva palavrão eu o acho amorável ator de holofotes, mas eu o encontro nos bastidores esplêndido e dono do seu saber, de sua experiência.
Sabe-se poeta e o faz com galhardia.
PAIXÃO!
Como descrevê-la?

É o lenhador

Que sem aviso adentra fundo o espinho

E rasga as delicadas

Pétalas de cetim da flor.

E a rosa se entrega

À prazerosa dor

“Agonia e Êxtase”

Todo seu amor

Igual a Michelângelo

Sob o teto de Deus.

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