22 novembro, 2006

A um passo da intervenção

Partindo de quem apoiou incondicionalmente e se beneficiaria largamente dos recursos públicos na Ditadura Militar originada no golpe de 1º de abril de 1964, não duvide de que tudo seja a mais pura das verdades. Também não creia que seja um mea culpa, porque as verbas de publicidade continuam chegando poplpudas aos cofres marinhos, por razões diversas, algumas poucas até justificadas na audiência que a líder da midia tem.
A matéria jornalística a seguir é assinada pela Globo, no programa Fantástico de 19.11.

“Trata-se do envolvimento de autoridades nos negócios internos do Brasil, como talvez nunca tenha havido", anuncia o historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico.
"Nunca tinha sido trazido a público um documento que desse uma prova tão cabal da presença do governo norte-americano nesse episódio da história do Brasil", afirma a diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Jessie Jane Vieira de Sousa.
Final de 1963. Documento secreto. Um plano de contingência para o Brasil. São sete páginas, encaminhadas para o conselheiro de segurança nacional da presidência dos Estados Unidos.
O documento é feito com a ajuda de Lincoln Gordon – na época, embaixador americano no Brasil. Gordon descreve para a Casa Branca diferentes possibilidades para a eventual queda do presidente brasileiro, João Goulart.
A correspondência fala dos riscos de uma revolta de extrema esquerda e até de uma intervenção comunista no Brasil, com o apoio do bloco soviético ou de Cuba.
Mais à frente, o embaixador cita a hipótese de retirada de Goulart por forças que classifica como “construtivas”. O presidente seria "convencido" a entregar o poder e, no lugar dele, assumiria o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli. Isso incluiria uma tomada temporária do poder pelos militares.
Três meses e meio depois da redação do plano de Gordon, estoura o golpe que derruba João Goulart. Tropas sediadas em Minas Gerais avançam contra o Rio de Janeiro. Na madrugada de 2 de abril, o então presidente do Congresso declara que Jango não é mais o presidente.
"O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Assim sendo, declaro vaga a presidência da República. Declaro presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli”, afirmou, na ocasião, o senador Auro Moura Andrade.
Duas semanas depois, o ex-chefe do Estado-maior do Exército, marechal Castello Branco, assume a presidência.
"As diretrizes que estão estabelecidas no final de 1963, afinal, se realizam de maneira muito precisa em março de 1964. Esse planejamento parece que foi utilizado como diretriz pelos conspiradores, ou, pelo menos, essa conspiração foi conjunta, e nela estava integrado também o embaixador Lincoln Gordon", acredita o historiador da UFRJ, Carlos Fico.
"É a primeira vez que se tem um documento que comprova isso, quer dizer, na verdade, não é delírio da oposição ou daqueles que sofreram com o golpe. É um dado da história", destaca a diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Jessie Jane Vieira de Sousa.
O professor Carlos Fico descobriu os originais do plano de contingência em um arquivo público americano, perto de Washington. "E esse plano de contingência estava no meio de documentos absolutamente rotineiros", acrescenta Fico.
Também no meio da papelada, o professor encontrou um telegrama. Ele foi mandado pelo departamento de Estado americano para o embaixador Lincoln Gordon, no Brasil. Repare a data: 31 de março de 1964, exatamente o dia em que estoura o golpe contra o governo de Jango.
Conheça agora os detalhes da estratégia americana para derrubar o presidente, a chamada "Operação Brother Sam". O departamento de Estado explica como será o apoio às forças contrárias a Goulart.
Primeiro item: quatro navios petroleiros da Marinha americana vão ser despachados de Aruba, no Caribe, para a cidade de Santos.
Segundo item: será enviada uma força tarefa naval, compostas por um porta-aviões e seis destróieres, dos quais dois estavam armados com mísseis teleguiados.
Terceiro item: desembarque de 110 toneladas de munição, que vão ser levadas de avião para Campinas, interior de São Paulo. A carga inclui gás lacrimogêneo para controle de multidões, dez aviões de carga, seis de reabastecimento e mais seis aviões de guerra fariam o transporte do material.
Esse plano prevê a invasão do território brasileiro por tropas americanas? "Não, eu não creio que pudesse haver uma invasão norte-americana, mas o pouso de aeronaves norte-americanas em solo brasileiro, desembarcando armas e munições, é tão grave quanto praticamente uma invasão", responde Fico.
Três anos atrás, em entrevista ao Fantástico, o embaixador Gordon negou que os Estados Unidos estivessem envolvidos no golpe de 64. "A participação ativa foi absolutamente zero", garantiu o embaixador.
Goulart não ofereceu resistência – deixou Brasília e morreu no exílio, 30 anos atrás.

Encontre essa reportagem em: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1355999-4005,00.html

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