15 maio, 2007

Juliaura Ubá entrevista Adroaldo Bauer

A novela O dia do descanso de Deus, primeiro livro de Adroaldo Bauer, está impressa.
Será lançada no fim do mês, dia 31, em sessão de autógrafo, na Palavraria Livraria – Café, em Porto Alegre, a partir das 19horas.
O autor já tem um debate marcado com leitores para o 26 de junho, no Plenarinho da Assembléia Legislativa.
Nesta entrevista exclusiva com o autor que apresento em primeira mão no Overmundo, convido a viajarem pela novela deste novo escritor (o primeiro livro a gente não esquece).
Não vou fazer lide ou nariz de cera para não alongar e ocupar muito espaço na página.
Como dizem as personagens de Adroaldo Bauer: Mãos à abóbora! Vá de retro capataz!

Juliaura Ubá – Quem te conhece um pouco sabe que és um sujeito que faz política, fez política nos últimos 30, 40 anos (eu nem pensava em nascer), tem política no enredo da novela.


Adroaldo Bauer – Tem, como tem política na vida de qualquer pessoa, em qualquer tempo, seja ela engajada ou não. Se não faz, fazem pra ela, nem sempre por ela. As personagens existem num tempo entre 1950 e 1970, por aí. É ficção, mas tem a ver com coisas reais, de pessoas comuns, que se amam, se odeiam, até se matam. Mas a personagem principal é a Língua Portuguesa. Eu tenho certeza que não está tudo nos conformes e pela ordem exata, mas tentei ser o mais fiel ao que se dizia e se falava em Português aqui no rio Grande do Sul, num ambiente em transição do rural para o urbano, nas cidades que já iam se modificando para assumir o perfil que têm hoje. Antes, portanto, da ocupação cultural que estamos vivendo. Então, a política aí é também de resistência, acredito.

Juliaura - Por que uma novela?
Adroaldo – Nem sei bem porque. Encafifei com uma frase. Tava trancado num ônibus, num fim de tarde quente. Comecei a suar frio, ter enjôos. A frase é não tenha medo de nada. Duas negativas em oito palavras. Redundância. Pensei que podia dizer, não tenha medo. Achei comum. Cheguei a não tema. Que é o presente. Então, se fose contar uma história, teria que ser menos jornal, mais literário. Encontrei: nada temia. A mesma negativa em duas palavras. Aí dei um nome pro sujeito.

Juliaura – No ônibus?

Adroaldo – É, encontrei a frase e o nome do sujeito ainda no ônibus. E casa, deu vontade de escrever. Fiz três capítulos numa sentada, à mão, caneta e bloco de repórter. Aí apareceram outros personagens. Não consegui dormir direito com aquela multidão comigo na cama.

Juliaura – Que multidão?

Adroaldo
– As personagens citadas de passagem começaram a me atazanar cobrando falas, função, papel para elas. Isto era o meio da semana. No fim de semana, cheguei a 12 capítulos.

Juliaura – O enredo estava bolado antes? A idéia, a vértebra da história tinha alguma anotação anterior? Tu vinhas acalentando essa necessidade de escrever a novela há muito tempo?
Adroaldo – Não, filha, se permites o tratamento.

Juliaura – Pra mim é uma honra, ainda que até possa ser tua neta (risos)
Adroaldo – Menos, Juli... Eu não tinha planos de escrever uma novela. Acho mesmo que e uma novela o estilo que acabou resultando. Eu sempre escrevi. Fiz a melhor redação sobre o Dia da Arvore da escola no terceiro ano primário. Fiz alguns versos pro Jornal O Saci, naquela escola. Publiquei alguns versos e contos no jornal O Julinho, em 1972, uma resistência possível que ajudou a reabrir o grêmio estudantil fechado pela ditadura. Rabisquei muito guardanapo em boteco. Publiquei também no Quadrão, que era um suplemento do jornal Folha da Manhã, que os donos fecharam na maior cara de pau em 1980. Mas eram sempre peças curtas, em verso ou prosa. Contos ligeiros, versos rápidos. Mais recentemente fazia resumos de livros e apresentação deles em blogs meu ou de outros e no jornal Fala Brasil, mas isso é muito recente, de uns dois anos para cá.

Juliaura – És poeta também?

Adroaldo – isto é bondade dos amigos. Faço algumas rimas, brincadeira com a sonoridade das palavras. Não sei fazer com métrica. Mas tava dizendo que não tinha roteiro, nem plano de escrever algo parecido com O dia do descanso de Deus.

Juliaura - Então como foi isso?

Adroaldo – Não sei bem direito. Foi sendo, e sendo foi feito. Mostrei os três capítulos pra minha companheira, a Cristina. Ela gostou e disse pra eu continuar a história. Daí eu sentei pra tentar e saíram os 12 capítulos naquele fim de semana que já falei. Então eu não dormia mais sozinho com a Cris. Era aquela multidão se enroscando e mim a noite inteira. Cheguei a 25 capítulos.

Juliaura – Dormindo? Sonhando?
Adroaldo – Não sei bem como é o nome disso. Não é sonho. Daí dei um intervalo de alguns dias. Eram as festas de fim de ano. Daí em janeiro eu me atraquei no computador para dar um fim na história. Teve um momento em que havia três hipóteses pro rumo da história.


Juliaura
– Três histórias em uma só?

Adroaldo – Até pode ser, mas prefiro acreditar que eram três finais possíveis. Ainda tem umas idéias sobre os outros dois rumos no Epílogo. Talvez até uma continuação...

Juliaura – Ah! Aquilo que chamam de trilogia...
Adroaldo – Já falei que nem tinha idéia de que pudesse fazer o livro e tu me vens com trilogia, guria. Isso é muita responsabilidade. Mas que tem personagem querendo, isso tem. Essa gente é impossível, quer mais, sempre.

Juliaura – Mudando de saco pra mala, por que estás editando por conta? É uma edição de autor? Estás montado na grana, é isso?
Adroaldo – Antes fosse, guria. Continuo devendo aos banqueiros, vivendo do salário do mês. Tu ainda não tens filho ou filha, não é fato? Imagina o que é ter a criança e deixar ela peladinha na incubadora, esperando sabe-se lá o quê? É bem isso que acontece com autor de primeira viagem, pai ou mãe. A gente quer pegar a criança, quer beijar, quer vê-la e que a vejam. Pra gente ela é a mais bonita. Ou tanto quanto as outras. E ninguém se apresentou para o batismo ou sequer para olhar a recém-nascida.

Juliaura – Mandastes originais para as editoras? Oferecestes na Internet, tem ali umas firmas de e-book?
Adroaldo – filha, a novela é do milênio passado e eu também sou mais de lá, ainda, que de cá. E, se tem uma situação da qual eu não gosto é de pedir penico. Mercado editorial eu compreendo, não quero discutir, mas não engulo coisas do tipo: estamos sem agenda para o momento. Ora, isso é resposta? O momento é a única situação real da existência. Quando termina esse momento. No filme Inteligência Artificial, de que eu gostei muito e recomendo, um momento dramático, pode-se dizer, durou dois mil anos. Um momento terno, prazeroso, feliz, durou 24 horas. Eterno enquanto dure, nos recomendou Vinícius de Moraes. Então eu emputeci, sondei uns amigos aqui, uns conhecidos ali, e decidi fazer com o Shimite, da Proletra. É edição do autor. Escritor pelado e metido a besta, se quiseres.

Juliaura – E a história, o que é? Qual é a mensagem? E o final, ah, ah, ah?
Adroaldo – Já dá pra saber o fim. Está impressa, vai ser lançada em 31 de maio na Palavraria Livraria-Café. O preço promoção de lançamento será R$ 20,00. É comprar e abrir a página 103, que tá lá. Na 104 tem o epílogo. Não aconselho muito essa técnica, porque pode ser que a curiosidade se intrometa e tu tenhas que ler todo o livro para saber porque termina assim a história. E melhor ler desde a primeira página da trama. Tem três capítulos dela, mais a apresentação do meu amigo e colega de jornalismo Pilla Vares, no meu blog, o Retorno Imperfeito, endereço http://coisaegente.blogspot.com e noutros lugares, no Ovemundo, que eu fiquei sabendo de tuas peraltices que resultaram em publicações por aí, até no Shvoong, já me contaram, é isso.

Juliaura – Pois é, li a apresentação do Pilla Vares e vi que ele te chama de velho que demorou pra escrever literatura (risos). Amigão, ele, ãh?
Adroaldo – respeito e bom e conserva os dente guria. Aliás, lindos dentes, menina, quase tão bonitos como os teus olhos. Bem que lembras a Laurita, uma das minhas personagens. Mais pela insolência que pelo feitio. O Pilla é bem assim como tu disseste. É verdadeiro. Ele lamenta de fato que tenha eu resolvido tão tarde dedicar-me a literatura, a um escrito de fôlego. Primeiro eu quero agradecer também aqui, porque já o faço no livro, a gentileza dele me apresentar. E principalmente por ser do jeito que foi. Segundo, porque ele e mais alguns sabem que não era possível eu escrever assim antes pelas tarefas que eu mesmo me impunha no trabalho político e profissional. Ficou pra hora que deu. Ainda bem que ainda me restam mais uns 50 anos de vida e, agora que eu já sei como se faz, vou continuar fazendo. É como coçar. Começou, não pára. Como eu te disse antes, tem personagem cobrando continuação. E, aí eu me recordei de que tinha uns dois capítulos pensados, resolvidos na cabeça, como se diz, mas ainda não escritos de uma outra história que, essa sim, pensei a respeito dela em 1994, quem sabe não dá uma novela. Tem crime que precisa ser explicado e situação que necessita compreender.

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