29 fevereiro, 2012

"mais que nunca é preciso cantar"

Não vale para qualquer fim o argumento de que pessoas que estiveram na caminhada pelo direito ao trabalho do músico são desempregados ou não trabalham de dia e não moram na cidade baixa.
Espero completar meus 60 anos em outubro desse ano da graça de 2012. Moro em Porto Alegre desde 1953, quase 30 desses na Cidade Baixa.
Pessoalmente estive na caminhada, apoiei a manifestação, vi diversos vizinhos meus apoiando os músicos, caminhando juntos ou aplaudindo nossa passagem desde as janelas dos prédios.
Poetas, escritores, artistas de teatro da nossa cidade, que também de algum modo utilizam vez por outra um estabelecimento do tipo bar ou restaurante para uma programação cultural ali também estavam.
Lancei um livro num café, na Rua da República, e tive o apoio de um músico amigo para o programa. Muitos escritores fazem o mesmo. Poderei voltar a fazê-lo?
Músicos novos, músicos pobres, bons músicos, tem seus primeiros trabalhos no chamado um banquinho e um violão.
Vão entrar na fila dos shows das grandes casas de espetáculos da cidades nos meses de janeiro e fevereiro, quando muita gente vai justa e merecidamente descansar na praia?
Saraus poéticos acompanhados de música são comuns e preenchem a programação cultural em toda a cidade, não só na Cidade Baixa. Vão deixar de acontecer? Onde se vai ouvir e dizer poesia na cidade, nas feiras, como na Idade Média?
Porto Alegre tem, sim, vida cultural. Felizmente, intensa e de qualidade. 

Fotos Ramiro Furquim - Sul21



Pessoalmente, trabalho de dia, moro na Cidade Baixa, próximo a um ponto de táxi.
Carros tunados cruzam José do Patrocínio e República, até depois de 3 da manhã, diariamente.
Meu vizinho do andar de cima arrasta equipamentos da academia particular dele por duas horas, quase todos os dias, a partir das 24 horas.
É assim a vida numa cidade como a nossa.
Uma vez, um errou de andar e esmurrou minha porta forçando a minha fechadura com a chave dele que não a abria. Não era o apartamento dele, pobre homem.





Conheci em mesas de calçada de bares da República pessoas daqui e de outros países surpresas com nossa cidade comportar atividades culturais assim de modo intenso e por ter um bairro com as características da Cidade Baixa.
Que nos podem dizer os moradores da Azenha e do Menino Deus sobre os movimentados estádios do Grêmio e do Internacional? Vamos propor que funcionem só durante o dia e em dias de semana, porque domingo é pra repousar?
O sindicatos dos Músicos e dos Artistas em Espetáculos estavam presentes e atuantes na caminhada que foi disciplinada, ordeira e feliz, porque mesmo na dor e na adversidade, é preciso cantar. "mais que nunca é preciso cantar".

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