03 novembro, 2007

Quando a Lua se esconde



Quando a Lua se esconde, não sei bem onde nem bem para que
Recolho minha tristeza em potes que transbordam
Sem saber rezar, por não crer que vogue ao sofrimento de amor
Sinto frio inaudito encarcerar a vida
Um silêncio apenas menor que o vazio se instala profundo
Nem mais nada, nem mais alguma cor
Nem pelo eriçado, nem emoção, nem brilho no olho
Já não há sequer coração, é só músculo frígido
Um aço anódino, antálgico deixado de alma
O fôlego preso, o ar retido, apagada a chama
O ar pesado, a frigidez, o gelo, ar sem ar
Atmosfera sem feição, eu sem afeição,
Sem mais encantamento, sem amor, só lamento
A última gota secou no copo
Sem escopo e sem ela desanimo, desfaleço
Abantesma de mim desassombrado
De vigília de nada em lugar algum
A caneta seca, a ponta do lápis quebrada
As folhas ao vento soltas e a relva molhada
A quadra inacabada, o terço um nó adverso
A alcatéia também inerte, mas inquieta
Nenhum verdadeiro verso, vazias palavras sentidas
Um pouco, pouco mesmo ou quase nada
O desespero de que seja até a palavra errada
Não encontrada para dizer do sentimento que não sinto
Quando – e é ainda uma grande dúvida
Uma outra Lua cheia reaparecer não mais estarei aqui
Quem sabe nem mais serei de mim, ou mesmo eu
Suado, exalando desagradáveis odores
Abespinhado e desarrumado sem brilho sem magia
Que as horas de ilusão vão e foram vãs, que desejo fugidio me escapou
E as nuvens obumbraram o firmamento
Deixando-me a natureza distinta, em lassidão conformada.

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