24 junho, 2014

MORTE SÚBITA



Foto de Adroaldo Bauer Corrêa
Dançaram
Não era exatamente um santo. Fingia. Tanto que se passava por tal.
Certa feita, num jogo de mundial, encerou as botinas, engomou o cabelo, poliu os dentes, entrou em campo brilhando o sorriso para a torcida.
Precisava o time dele de apenas um empate para passar à fase seguinte do campeonato que já conquistara quatro vezes.
Jogou pros lados, postou-se com mais nove no próprio campo, sete na grande área.
O adversário enervava, chiava, rugia, inchava.
O time batia como bateram os inquisidores dirigidos daquela terra nos que consideravam hereges.
Esses de hoje, entanto, não se resignavam, não se ajoelhavam, nem se arrependiam, sequer se deixaram levar à fogueira.
Raça charrua, sangue nos olhos, a faca nos dentes, devolviam as pancadas, um até parece ter mordido o zagueiro que lhe perseguia na marcação.
Fados da vida, a retranca vaza, leva gol de cabeça no quarto final do segundo tempo.
Os minutos poucos restantes passam velozes.
Morte súbita, como são as mortes impensadas ou provocadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário no post. Seu retorno ajuda a melhorar a qualidade do meu trabalho.
Se você não é inscrito no blogger, clique em anônimo e deixe um nome ou endereço para contato.

Twitter Updates

    follow me on Twitter