31 agosto, 2007

Uma crítica de cátedra


Marília Corrêa Machado*


Na novela O dia do descanso de Deus, Adroaldo Bauer apresenta, já na escolha do título, uma proposta intrigante.
Fato que leva, ao leitor mais atento, a certeza de uma boa leitura.
Numa trama que envolve personagens densos e introspectivos, percebe-se no inaugurado escritor uma importante bagagem literária de leitor.
Em sua primeira novela, Adroaldo já demonstra sua veia literária na linguagem do coloquial, do regional, dos fricotes e dos bordões.
O que remete à leitura crítica do registro como resgate de uma “tradição”. Aspecto que ecoa, em verossimilhança, no curso que fizeram os canônicos, tais como Machado, Érico, Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana, João Cabral...
Numa arqueologia do popular.
Contudo, a linguagem do regional é registrada como um legado histórico inscrito na geografia pessoal dos personagens da trama O dia do descanso de Deus.
O local onde se dá a tragédia com Divina, a doce personagem através da qual deriva a novela, é Porto Alegre registrada com afinco e devaneio em meio à nuvem da ditadura de pau-de arara.
Neste espaço e tempo de palavras desterradas, e desterritorializadas pela contemporaneidade, tem-se o prazer de averiguar, com singular empatia, um cotidiano (a)temporal que pertence a todos que dão devida importância à memória, interior e exterior.

Desterro - SC, Inverno, 29/08/07
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* Marília Corrêa Machado é professora, graduada em Artes Plásticas, autora da tese de mestrado em Teoria Literária "O gosto do nunca e do sempre, Um estudo sobre o tempo e o espaço na poesia de Mario Quintana."

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